domingo, 11 de abril de 2010

Miritifest atraiu visitantes e movimentou venda de artesanato em Abaetetuba



A sétima edição do Miritifest, que iniciou na última sexta (9)  terminou neste domingo (11)  no município de Abaetetuba, no Nordeste do Pará tendo cumprido suas principais propostas: fortaleceu a relação do artesão local com o mercado consumidor, gerou lucro e ampla divulgação do produto, atraiu milhares de visitantes para o município, valorizou dezenas de artistas locais envolvidos na programação cultural e ainda revelou uma gastronomia típica sui gêneris na região do Baixo Tocantins, como explicou o secretário de Cultura do município, Manoel de Jesus Moraes.   O evento foi realizado nesses três dias por um Grupo Gestor que envolveu Prefeitura Municipal de Abaetetuba, Associação Comercial e Empresarial (ACA), Associação dos Artesãos de Brinquedo de Miriti (ASAMAB), Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Conselho da Mulher Empresária e Sebrae de Abaetetuba.




Durante a programação do evento, concentrada na Praça da Bandeira, no centro de Abaetetuba, moradores locais e visitantes tiveram a oportunidade de conhecer a importância da árvore do  miriti (Mauritia flexuosapara a economia, cultura e tradições locais. Eliza Iry Sawada, gestora do projeto Artesanato de Mirití, do Sebrae Pará, explica que a instituição, patrocinadora do Miritifest, há nove anos começou a estudar e investir no artesanato de miriti, visando a profissionalização dos trabalhadores locais. “Garantimos um espaço para comercialização do artesanato de miriti em Belém durante o Círio, realizamos capacitação para aprimoramento da técnica dos artesãos, incentivamos os profissionais a fazerem parte da Asamab e a criarem outros produtos que não só o brinquedo mas objetos decorativos e bijuterias. Agora buscamos dar notoriedade ao artesanato, incentivando eles a criarem a delimitação de área com o Selo de Identificação Geográfica para que todos reconheçam o artesanato produzido em Abaetetuba”. Afirma Eliza, ao informar que o orçamento do Sebrae para trabalhar o melhoramento do artesanato de miriti em Abaetetuba em 2010 é de aproximadamente R$ 300 mil, dos quais R$ 20 mil foram destinados ao  Miritifest.


À Associação Comercial e Empresarial de Abaetetuba (ACA) coube no Miritifest a missão de agregar a iniciativa privada ao evento, aproximando cada vez mais o grande empresário do artesão, aumentando as oportunidades de geração de negócios, garante Benedito Bitencort, presidente da ACA. “Eles (artesãos) trabalham o ano todo, por isso  realizamos agora reuniões mensais, discutindo melhorias e buscando investimentos”. Garante Benedito, ao afirmar que o artesão de Abaeté hoje fornece produtos para todo o Brasil e até exterior.


Por traz do processo de capacitação  e de comercialização da cadeia produtiva do artesanato parcerias foram criadas com outras entidades, como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) que garante proteção ao crédito e busca de patrocínio e o Conselho de Mulher Empresária, também apoiadores do Miritifest.


Na retaguarda de todas essas iniciativas de tornar o Miritifest um evento há cada ano com maiores proporções e impacto no cenário nacional e o artesão cada vez mais auto suficiente está a Prefeitura de Abaetetuba, que inaugurou na última quinta-feira,dia 8 o Centro de Cultura de Mirití de Abaetetuba. “Antes o visitante chegava na cidade e precisava pesquisar onde encontraria o miriti. Hoje ele tem um endereço certo, um espaço onde está toda a produção dos diversos profissionais da nossa cidade”. Diz Francinete Carvalho, prefeita de Abaetetuba. Ela também anuncia ainda para este semestre a inauguração de um estande de venda e exposição de miriti no Portal de entrada da cidade. “É para que ao chegar o visitante saiba por que Abaeté é a capital do miriti”.


Mas quem comemorou as ações compartilhadas em benefício do miriti de Abaetetuba foram os artesãos locais que puderam contabilizar lucros com o Miritifest. É o caso de Maria do Socorro Miranda Ribeiro, que juntamente com mais cinco irmãos ligados à ASAMAB têm no produto a principal fonte de renda da família. “Chegamos a lucrar por mês com a venda do miriti cerca de R$ 400,00 cada um”. Contabiliza Maria, que há 25 anos escolheu essa profissão. Sua família hoje tem pontos de venda em Abaetetuba e Belém e é fornecedora de artesanato para São Paulo e Rio de Janeiro, assim como muitos dos mais de 100 associados da Asamab, como afirma Desidério Neto, presidente da Asamab.


Aos 74 anos dona Nina Meire Abreu da Silva se diz satisfeita com os rumos que o miriti está dando para a vida de Abaetetuba.  Ela conquistou na comunidade local um status especial. Além de ser uma das mais talentosas artesãs do município ela também é uma referência histórica entre os mais de 100 profissionais da Asamab. Seus personagens são caricatos: a mulher que soca a polpa do miriti em um pilão para fazer o vinho, o macaco que bebe água de coco, o barquinho, a cobra e o ribeirinho que transporta em seu barco colorido a cana, o mel, a cachaça, o açaí e o miriti. Este é o seu personagem favorito. “Registrei o Ribeirinho em cartório para ninguém copiar.  Ele carrega coisas no barco que são nossas, da nossa região”. Conta Nina que apesar dos problemas de saúde inerentes da idade já avançada ainda luta por seus ideiais e defende o artesanato de miriti que para ela precisa ser passado para outras gerações.


Visitantes ilustres passaram por Abaetetuba durante o Miritifest. Políticos, artistas, escritores, filhos da terra que retornaram para a festa tradicional ou mesmo “forasteiros”. Todos se deliciaram com pratos de miriti: vinhos, lasanhas, pudins, bolos, etc. e elogiaram o evento. É o caso do renomado escritor paraense Salomão Laredo, recebido com muito carinho pelos artesãos, especialmente por dona Nina. Salomão falou da necessidade de melhorias na estrutura e organização do evento mas reconheceu a importância para o Pará.


“Há um avanço muito grande, é visível o aprimoramento da técnica. Fico feliz de ver que estamos valorizando o miriti, um produto da terra, que fala e expõe nossa cultura, através do lúdico, do brinquedo, da gastronomia”.  Elogiou o escritor que foi buscar no miriti inspiração para sua preciosa e rica obra literária.
Nas mais de 70 ilhas de Abaetetuba, centenas  ou talvez milhares de ribeirinhos, que diariamente fazem a coleta, armazenam em paneiros, cozinham e beneficiam todos os derivados do miriti, mesmo com pouca consciência da grandeza da cadeia produtiva desse produto comercializado internacionalmente, seguem sua rotina de trabalho, às margens do canal do Sirituba e de outros, na expectativa de que os barcos e canoas continuem passando diariamente e assim possam, levar rio acima o festejado miriti.

Texto: Benigna Soares - Abrajet Pará 

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(91) 8842-8129 


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